Entre outras finalidades, uma IA (inteligência artificial) poderá ser utilizada para combater fraudes em ligações de água e esgoto em Campo Grande. A tecnologia é desenvolvida por pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e pela startup Damine Tecnologia, há dois anos.
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Concessionária que cuida dos serviços de abastecimento e saneamento na Capital, a Águas Guariroba fez parceria com a universidade e a empresa para poder utilizar o recurso futuramente.
A identificação de perdas para a Águas, seja por meio de ligações clandestinas ou de vazamentos, será uma das principais contribuições dessa IA, explica o professor que coordena o núcleo de pesquisadores envolvidos, Ruben Barros Godoy.
Na atual fase da implementação, está sendo feito feito um mapeamento dos telhados de casas com a ajuda de um drone. As fotos geradas são combinadas com imagens de satélites em um programa de geoprocessamento.
"É um processo longo de coleta de imagens que chamamos de segmentação. Já fizemos isso em um pedaço de Campo Grande e a taxa de assertividade foi em torno de 80%, o que é muito interessante", diz o coordenador.
A IA que está em desenvolvimento reconhece cada telhado como uma unidade consumidora da concessionária (Imagem: Reprodução/UFMS)
Ruben garante que questões legais e éticas são respeitadas pelo núcleo de pesquisa. Quanto a alguma possível violação de privacidade com as capturas feitas pelo equipamento voador, ele esclarece que elas nem têm definição o suficiente para focar em pessoas e que são clicadas a uma distância segura, em que uma quadra inteira será fotografada.
Além disso, o sistema da IA "sabe" o que precisa desprezar e o que vai priorizar na hora de gerar uma imagem. "A segmentação faz exatamente isso, tira tudo o que pode ser ruído, como uma árvore, por exemplo. Ele detecta só o que a gente precisa", continua o professor.
Fraude ou vazamento - Quando o sistema estiver 100% alimentado com os mapas, a IA irá usar o banco de dados da concessionária para calcular um consumo médio em cada casa e em cada quadra. Ela vai considerar até detalhes como a existência de piscinas, o principal indicador para consumo elevado em uma residência. Locais desocupados serão desconsiderados.
"Vamos cruzar dados. Se em determinada unidade consumidora existe uma piscina, mas o consumo de água está abaixo da média das residências com piscina num mês, pode ser que haja uma irregularidade. Aí, é a concessionária que vai verificar e tomar as providências", explica Ruben.
A mesma lógica vai ajudar a descobrir vazamentos subterrâneos que podem inflar a fatura de água do consumidor e gerar desperdício de água: se é registrado um consumo muito maior do que o normal em algum local, a tecnologia vai apontar provável defeito no sistema de abastecimento de uma casa.
A equipe envolvida na criação da inteligência artificial em reunião (Foto: Divulgação)
Quanto aos outros usos que a inteligência artificial pode ter dentro da concessionária, está o auxílio na localização de unidades consumidoras onde os técnicos podem ter dificuldade de chegar.
O professor acredita que a tecnologia pode ser útil também para outras empresas privadas e para o poder público. Ele dá como exemplo possível uso por uma prefeitura para regularizar o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) de residências onde foi construída uma piscina e ajudar a fiscalizar a limpeza de terrenos e das próprias piscinas, como medida de prevenção à dengue.
"Cérebro" que aprende - "Essa inteligência artificial é como se fosse uma rede neural, um cérebro", diz ainda Ruben. Ela vai precisar de um treinamento antes de ser utilizada, por se tratar de uma máquina que aprende por meio de algorítimos. Só então, poderá ser utilizada com a taxa máxima de assertividade que a equipe desenvolvedora pretende.
A Águas Guariroba foi contatada, mas não informou qual a previsão de a tecnologia começar a ser usada. Em nota, a concessionária apenas frisou que "o estudo agregado aos dados internos, como matriculas ativas e inativas e padrão de consumo, colabora com a qualidade de análise comercial e operacional, pois, indiretamente, podemos utilizar os dados para identificar padrões de consumo de clientes".