A régua na ponte sobre o Rio Miranda, na MS-345, também conhecida como Estrada do 21, é testemunha da penúria das águas no corpo hídrico: que media apenas 20 centímetros na manhã do dia 4 de julho.
No canto, na margem mais próxima a Anastácio, o rio corre por uma faixa estreita. No resto, é leito de pedra com algumas poças de água. Na margem onde fica o Águas do Miranda, distrito de Bonito, resta a esperança de que o rio volte a encher, permitindo a subida dos cardumes, responsáveis pela principal atividade econômica da localidade, o turismo de pesca.
Os meses de Inverno tendem mesmo a ser de rio baixo, mas ninguém se lembra de ter visto o Miranda tão raso como neste 2024. A água, que dá nome ao distrito, também é a vida dos moradores. “Nunca tivemos um ano tão difícil. É triste de ver. Nunca esteve tão baixo o nosso rio. A chuva de março já não teve. Não tem algo mais precioso no mundo do que a água. Mas também depende muito de as pessoas se conscientizarem. Chega de tanto desmatar, plante árvores, árvores e árvores”, diz Edivânia Oliveira de Sales, 53 anos.
Piloteiro de barco, Fábio Colman, 29 anos, conta que o ano tem sido atípico para o Miranda. "Em geral, de novembro a março tem muita chuva. Mas não choveu nada, nada, nada. O rio nunca ficou desse jeito”. Ele mora há 29 anos perto do Miranda.
"O rio nunca ficou desse jeito", diz Fábio, que é piloteiro de barco.
Nesta baixa temporada, Fábio atua como pedreiro, com diária que não passa de R$ 180. Quando trabalha de piloteiro, a diária varia de R$ 400 a R$ 500. “A gente depende só da pesca. Fica difícil. Os barcos estão tudo parados. A esperança é chover o mais rápido possível”.
De novembro a março, os pescadores recebem o seguro defeso, que corresponde a um salário-mínimo. Mas não há um “seguro seca” para a categoria.
No leito do rio seco, barcos parados e até com âncora à mostra por falta de água. Por lá, caminha José Ernesto Belizzaro, 62 anos, à procura de pedras para lapidar e vender o artesanato nas feiras de Campo Grande.
É triste ver o rio assim. Um rio piscoso, com estoque pesqueiro. E ver como está agora”, diz José, que conhece o Rio Miranda há 40 anos.
No topo da ponte, pichações são lembranças de quando vinha a cheia e os barcos chegavam bem perto do asfalto. Como em 2018, onde vários casais deixaram os nomes anotados e coração desenhado para a posteridade.
A expectativa é que as águas voltem a tempo de assegurar a alta temporada. É nos meses de agosto, setembro e outubro que os moradores do distrito, a 70 km de Bonito, garantem a renda para passar o ano.
“Em agosto, setembro e outubro, tem público para o que você quiser montar. Mas são só esses meses. O resto é parado”, diz Dirlene Colman. A maioria dos visitantes em Águas do Miranda vem de São Paulo.