Paulo Henrique Muleta Andrade, ex-coordenador da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Campo Grande, fugiria do Brasil com aval do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).
Muleta foi preso a primeira vez no âmbito da Operação Turn Off, desencadeada em 29 novembro de 2023.
Entretanto, posteriormente ele conseguiu liberdade provisória, mas acabou preso novamente na 2ª.feira (9.mar.25), no âmbito da Operação Occulto.
Ambas as operações foram deflagradas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do próprio MPMS.
Segundo os investigadores, ele foi preso de novo após fazer um saque de R$ 412 mil mesmo em sua conta bancária bloqueada em agosto do ano passado, sob o sequestro judicial de R$ 8,9 milhões.
É explicado que o saque foi possível por uma falha sistêmica da Caixa Econômica Federal, que bloqueou as contas, mas não as aplicações financeiras o investigado.
O MPMS argumentou que tais movimentações demonstraram uma tentativa clara de obstruir a investigação e esconder os bens desviados.
Com isso, o juiz determinou a prisão preventiva de Muleta, considerando que as medidas cautelares anteriores não haviam sido suficientes para impedir a fuga do acusado.
Um ano antes de sua segunda prisão, em abril de 2024, Muleta fez uma solicitação ao Judiciário para e e sua família obterem a dupla cidadania, o que foi aprovado.
As investigações, que começaram em 2021, apontam que Muleta e outros envolvidos desviaram aproximadamente R$ 8 milhões da Apae.
A investigação diz que os desvios envolveram repasses da Secretaria de Estado de Saúde (SES) para tratamento de pacientes ostomizados, sendo que os valores eram desviados através de empresas de fachada.
Além do desvio milionário do convênio destinado para ostomizados, Muleta é acusado de receber R$ 919 mil em propina entre julho de 2019 e novembro de 2023.
No processo judicial, ficou claro que o ex-coordenador e sua família tinham a intenção de deixar o Brasil, mesmo com ele respondendo a acusações de corrupção.
A defesa de Muleta apresentou documentos comprovando a descendência italiana da família, como parte da solicitação para a obtenção da cidadania.
Em outubro de 2023, a família entrou com um pedido judicial para mudar o sobrenome, alegando que a alteração facilitaria a obtenção da cidadania italiana.
O pedido recebeu o aval do MPMS, e em agosto de 2024, a juíza responsável autorizou a alteração dos registros, permitindo que a família passasse a ser oficialmente registrada com o sobrenome "Moletta".
Apesar do apoio inicial do MPMS, o juiz Robson Celeste Candeloro, que conduzia o processo criminal de Muleta, negou um pedido para que ele viajasse à Espanha. A decisão foi tomada com base na suspeita de que Muleta planejava fugir.
Mensagens trocadas entre Muleta e um contador indicaram intenções de fuga, o que foi destacado pela Justiça na decisão.
Além disso, Muleta tentou obter um empréstimo substancial, com o intuito de sair do Brasil, mas esse movimento foi detectado pelas autoridades.
Representada pela advogada Rejane Alves de Arruda, a defesa de Muleta informou que se manifestará assim que tiver acesso completo ao processo.
A Apae de Campo Grande, por meio de nota, destacou que tem colaborado com as investigações e reafirmou seu compromisso com a transparência e a ética na gestão de recursos destinados ao tratamento de pessoas com deficiência.
Occulto, termo que dá nome à operação, faz referência às ações para ocultar o dinheiro desviado, e considera também o pedido de cidadania italiana feito pelo ex-coordenador da Apae, com pretensões de deixar o país. Eis a íntegra.